OLD SCHOOL
- GESCC
- 13 de mai. de 2019
- 4 min de leitura
Atualizado: 16 de mai. de 2019
Na estreia da coluna Tattopédia iremos abordar sobre um clássico estilo: O Old School.

A princípio, as tradicionais tatuagens eram feitas em locais onde havia poucos recursos, logo o que era utilizado como ferramenta era basicamente agulhas e tinta monocromática, o que as tornara simples do ponto de vista do design. No entanto, existe a relevância da técnica, e mais a frente iremos abordar como tudo evoluiu. Tal estilo retorna hoje ao gosto do grande público de tatuados. Mas o que há de tão interessante nesse antigo estilo de tatto para que esse movimento ocorra atualmente?

Não há como falar de Old School sem citar um lendário tatuador: o marinheiro Norman Keith Collins, mais conhecido como “Sailor” Jerry. O estilo nasce no mesmo lugar que seu precursor, nos Estados Unidos dos anos 20 do século passado. Nascido em Reno, vagando de trem em trem, aprendeu primeiro a técnica primitiva de tatto com apenas uma agulha e tinta preta, à mão livre por “picadas” ou um puxão por vez na pele. Aos 19 anos, teve contato pela primeira vez através de um grande tatuador local chamado Gib ‘Tatts’ Thomas, com a máquina elétrica de tatuagem fazendo muitos bêbados de cobaia, os quais ganhavam vinho em troca. Se alistou na Marinha norte-americana, e as viagens feitas ao longo de sua carreira militar para a Ásia influenciaram, e muito, na sua arte de tatuar. Dentro de seu estúdio na cidade de Honolulu, no Havaí, onde se estabeleceu na década de 30 após abandonar a Marinha, costumava desenhar na pele de marinheiros, de fuzileiros navais ou de piratas que atracavam por lá,principalmente após o ataque a Pearl Harbor, o reflexo de suas vidas naquele momento, como: âncoras, caravelas, mulheres dançando hula, pin-ups, andorinhas, águias, caveiras, bebidas e etc. Tais tatuagens, revividas atualmente, eram uma forma de registrar suas aventuras, já que muitos em idas e vindas de confrontos de guerra não sabiam o seu destino, e aquela mentalidade dos soldados americanos enriqueceu de significado os desenhos. Nesse tradicional estilo, está presente contornos fortes e marcantes, pouco ou nenhum sombreamento, com uso de cores sólidas e primárias, geralmente, de amarelo, vermelho, verde e azul. Mas com Sailor Jerry muito tende a mudar. Começa a se ampliar a paleta de cores, há melhora das ferramentas, como ao inovar a máquina de tatuar utilizando uma outra habilidade sua ,que fora a de eletricista a qual aprendeu por conta própria, e começa-se a ter certos cuidados com os materiais utilizados, como por exemplo, ele fora pioneiro no uso de agulhas descartáveis e um dos primeiros estúdios a utilizar o autoclave na esterilização de seus equipamentos numa época em que esse tipo de preocupação era muito raro.


Porém existia também um discurso pessoal do próprio Jerry em suas tatuagens, que é o central do estilo: o de se rebelar contra pensamentos homogêneos da sociedade que marginalizava bastante quem possuía tatuagens, algo que ainda podemos encontrar hoje em dia, mas que na época associavam-nas mais fortemente com criminosos. Artista de personalidade versátil, condenava tatuadores que o copiassem, recusando inclusive fazer tatuagens em pessoas que tivessem feito com os que ele não respeitava, os quais ele chamava de “brain pickers” ou catadores de cérebros em livre tradução. Ele se irritava com esses tipos de tatuadores porque ele tinha real devoção pelo que fazia, detalhe por detalhe, em busca de novos efeitos através de sombreamento, tons e texturas, sempre buscando evoluir, ou como ele mesmo dizia: “Eu não fiz o meu melhor ainda, apenas o meu melhor até agora”. A tatuagem foi elemento fundamental de contracultura no ápice do “American Dream”, e Collins escolheu viver a vida exatamente nessa linha, desde o momento que decidiu viajar de trem e descobriu seu ofício até quando se mudou para a Chinatown de Honolulu para montar o seu próprio estúdio se transformando definitivamente em Sailor Jerry, uma lenda do Old School.


Além disso, para ele que patenteou esse tipo de tatto, existia também uma irônica e forte coincidência: sua arte era influenciada pelos Horis, proficientes e sofisticados tatuadores japoneses, com os quais trocara cartas, se tornando o primeiro ocidental a manter contato com esses mestres sobre as técnicas e/ou traçando tatuagens. Mestres vindos do país que iniciou de fato a Segunda Guerra Mundial contra seus compatriotas. Criando assim, uma ligação eterna entre ocidente e oriente através do seu autêntico estilo de tatuagem. Icônico e artístico, irreverente e emotivo, radical e belo. Após sua morte, em 1973, sua loja é herdada por seus protegidos Don Ed Hardy e Mike Malone, os Rollo Banks. Hoje Sailor Jerry é uma marca registrada no Havaí e no mundo por lutar contra o convencional, em pensamento e na arte. Assim o Old School fora eternizado e serviu de inspiração para novas expressões ao longo do tempo, como na Neo Tradicional, que será abordada numa outra postagem.


Com um breve resumo da história por trás do Old School, não fica difícil entender o porquê muitos optam por desenhá-la na pele: o que foi inovador em tempos sombrios, hoje possui um ar vintage esteticamente falando. E agora sabendo dessas breves curiosidades quem sabe não dará um novo significado para aqueles que já possuem ou que almejam tatuar uma? Até a próxima!
“Mantenha-os lutando, é como Yin Yang funciona – se não houver oposição de forças, não há evolução da vida!” – Sailor Jerry
Texto redigido por Brenda Bertoldo (@sranefelibata), estudante de Jornalismo da AESO Barros Melo e integrante do grupo Gescc.
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